domingo, 9 de julho de 2017



Saiba por que os psicopatas são incapazes de amar seus próprios filhos


Os traços de personalidade da tríade obscura (DTP, na sigla em inglês) são o narcisismo, o maquiavelismo e a psicopatia. Estes traços se manifestam nas pessoas como um amor-próprio excessivo, uma atitude manipulativa, e uma falta de empatia.
Não se sabe ao certo quantas pessoas têm estes traços, mas diversos estudos estimaram que isso varia entre 1% e 10% da população.
Estes indivíduos têm uma obsessão por si mesmos, e muita dificuldade para entender os sentimentos dos outros. Por este motivo, seus relacionamentos costumam ser abusivos e controladores. Os parceiros românticos são manipulados, usados, e levados a acreditar que são loucos, antes de serem abruptamente desvalorizados e descartados.
Uma pergunta comum, que costuma surgir, é se os filhos de uma pessoa com DTP seriam tratados de forma diferente da experimentada pelos seus parceiros românticos.

Os narcisistas são “incapazes de amar alguém de verdade”

De acordo com Perpetua Neo, uma psicóloga e terapeuta especializada em DTP, a resposta é “não”.
“Os narcisistas, psicopatas e sociopatas não têm um senso de empatia e não irão desenvolvê-lo, portanto, são incapazes de amar alguém de verdade,” disse ela ao Business Insider.
Isso não muda quando eles têm filhos. Não há um instinto primitivo para proteger e encorajar seus filhos, porque eles não são vistos como entidades separadas, e sim como ferramentas que estão à sua disposição.
“Estas pessoas tendem a ver as crianças como uma extensão de si mesmas e uma posse,” disse Neo. “Então, em vez de dizer ‘Vou cuidar de você para que você possa crescer e ser a pessoa incrível que está destinado a ser’, eles dizem ‘Você deve crescer e fazer isso para que seja o meu troféu.’”
Isso é muito diferente do ambiente em que uma criança de uma família saudável cresceria. Em vez de ser estimulada e ensinada a aprender como funciona o mundo, os filhos de pais com DTP crescem sem conhecer seu próprio senso de identidade.
“Eu posso monitorar o seu telefone, posso fazer o que quiser, posso entrar no seu quarto sem avisar, não preciso respeitar o seu senso de propriedade,” é o que Neo afirma que personalidades com DTP acreditam. “Também não há limites emocionais. Por isso, a criança cresce sem saber bem o que são limites”.
Espera-se que a criança preencha diversos tipos de funções que não deveria ter que preencher. Por exemplo, os narcisistas tendem a ser pessoas muito infelizes, com baixa autoestima e, portanto, descarregam uma bagagem emocional desnecessária sobre seus filhos. Eles são usados como um ouvido para escutar os problemas dos pais, e funcionam como uma fonte de conforto emocional.
Isso continua ao longo dos anos, e Neo diz que alguns de seus pacientes já lhe contaram que seus pais disseram: “A única razão pela qual eu tive você foi para que pudesse cuidar de mim pelo resto da sua vida”.
“Você não pode ter filhos, e também não pode se casar,” ela acrescentou. “O pai ou mãe se mete em todos estes relacionamentos, vindo por todos os lados e criando vários tipos de drama, para que o filho continue solteiro”.

“Espera-se que a criança seja um saco de pancadas”

Ao longo da sua vida, também se espera que a criança seja um saco de pancadas, tanto física quanto emocionalmente. Isso fica mais difícil, à medida que o filho cresce, pois ele se torna mais forte e mais consciente, por isso o pai irá combater este “problema” trabalhando para prejudicar a sua autoestima.
“Conforme os pais ficam mais velhos e a sua saúde começa a decair, sua autoestima fica muito abalada,” disse Neo. “Então a criança cresce, se torna forte, poderosa, tem mais consciência de si mesma, e é difícil para o pai assistir a esta mudança. Então surge uma competição nada saudável, tratando mal os filhos, chamando-os de gordos, inúteis, feios”.
Ao mesmo tempo, sempre que a criança consegue alcançar algum objetivo, os pais querem receber o crédito. Por exemplo, eles podem dizer que seu filho é um ótimo trompetista, e que a única razão para que isso tenha acontecido é por que eles se esforçaram e economizaram para pagar as aulas durante anos, mesmo que não seja verdade”.
“Qualquer coisa, por menor que seja, sempre volta para eles,” disse Neo. “Então, a criança é criada pensando: ‘Eu não tenho identidade, minha opinião não vale nada, eu não sou importante”.

A “criança de ouro” vs. o bode expiatório

As dinâmicas mudam dependendo de quantos filhos a pessoa com DTP tem.
Às vezes estes indivíduos podem ter mais de um filho, e Neo explica que é notável como a mesma dinâmica de poder é observada nestas famílias. Na maioria dos casos, um filho se torna a “criança de ouro”, aquela que nunca faz nada errado.
“A criança pode viver no medo, porque tudo que ela quer fazer é agradar à mãe ou ao pai para que não surjam problemas, para que ela seja amada,” disse Neo. “Então eles recebem esta recompensa e é quase uma transação”.
A segunda criança é usada como um bode expiatório, sendo culpada por tudo. O adulto gosta de colocar os filhos um contra o outro, criando uma competição desnecessária.
Se há uma terceira criança, Neo diz que ela se torna o “menino perdido” ou a “menina perdida”, sendo negligenciada e quase completamente ignorada.
Se você observar as famílias e identificar os traços de pais narcisistas, geralmente é isso que acontece,” Neo diz. “Essencialmente, tudo é desenhado para que a autoestima do filho seja baixa, assim ele sempre permanecerá pequeno e continuará sendo uma posse. Há um comportamento ditatorial em relação ao que a criança pode ou não fazer, porque tudo está associado ao senso de identidade dos pais”.

Monstros criam monstros?

Um medo que os filhos de indivíduos com DTP têm é que possam crescer e se transformar em suas mães ou pais. No entanto, de acordo com o blog NarcissisticMother.com, escrito pela psicoterapeuta Michelle Piper, isso só acontece na minoria dos casos.
Piper afirma que os pais narcisistas detestam a ideia de que seus filhos estejam crescendo, e querem impedi-los de fazer isso, enquanto for possível, para “continuar acariciando seus egos sedentos e frágeis”.
“Quando você, um adulto, filho de pais narcisistas, cresce, você pode sentir que algo está errado mas não consegue identificar exatamente o que é,” escreveu ela. “Você pode sempre ter associado o amor e o apreço ao fato de cumprir as demandas dos seus pais, e por isso acaba assumindo que é assim que tudo funciona”.
Uma maneira menos comum pela qual os filhos de pais com DTP reagem, é se auto protegendo, tornando-se menos sensíveis, mais fechados e extremamente independentes.
“Você faria tudo que precisasse fazer para manipular os outros e tratá-los como se fossem os pais que queriam que você alcançasse todas as suas expectativas,” escreveu Piper. “Esta é uma espécie de ataque passivo-agressivo direcionado aos seus pais, através de outras pessoas, e você acaba fazendo com os demais o que gostaria de ter feito com seus pais narcisistas”.
Apesar disso, o mais comum é a “resposta de conformidade”, onde você se acostuma a colocar as suas necessidades de lado e quer fazer o possível e o impossível para agradar a todos que conhece.
“Filhos de narcisistas tendem ter compulsão por servir os outros,” Neo explica. “É aí que eles se tornam completamente empáticos, generosos ao extremo, e são usados por mais narcisistas e pessoas com traços da tríade obscura presentes em suas vidas”.
O que vai acontecer com você depende de qual filho você era no sistema familiar. Embora a criança de ouro possa ter evitado a maior parte do abuso durante a infância, ela pode acabar tendo um destino pior do que o reservado ao bode expiatório.
“A criança acredita que se fizer o que a mamãe ou o papai quer, tudo vai ficar bem e ela vai ser amada,” diz Neo. “No momento em que você não faz algo, acaba sendo duramente desvalorizado, repreendido e insultado. Assim, você aprende que suas visões e seus sonhos não são importantes”.
O bode expiatório nunca “chega aos pés” do filho de ouro na infância, mas costuma se dar melhor na vida do que a criança que é, essencialmente, o fantoche dos pais. Eles crescem, se aventuram pelo mundo, e acabam descobrindo a liberdade. Por terem sentimentos negativos mais óbvios associados a seus pais, eles têm uma maior facilidade para se libertar e criar uma vida completamente nova e saudável.
Lindsay Dodgson

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