domingo, 20 de maio de 2012

Emoções

                                                                                                                     
                                                        
                                                                         Dra. Terezinha Barreiro

Lembro-me de quando criança não pensar. Não pensar mesmo, com exceção dos deveres escolares. Tenho boa memória do tempo de minha alfabetização. Que delícia entrar naquele universo de palavras, minha mãe doidinha com minha insistência em pegar o material escolar do meu irmão mais velho e tentar, rabiscando, escrever o que eu imaginava estar entendendo.

 Assim vieram as letras, as palavras, as frases. Com quatro anos já me interava muito bem com meus livrinhos de estórias e claro, com os cadernos do coitado do meu irmão, onde eu ainda insistia em pegá-los, mas que nessa altura, mamãe, para me contentar, comprara um caderno horizontal onde eu já começava a copiar todas as lições de casa que ele trazia. Achava aquilo o máximo, o melhor da vida, mas não pensava, só sentia.

 Uma euforia me tomava, levando-me a sonhos tão reais que me distraia com o tempo, esquecendo os amiguinhos e a calçada que me esperava, com direito a giz, amarelinha, casca de banana, piques e muitas gargalhadas. Não me programava, do tipo amanhã vou fazer tal coisa. Cada dia tinha sua própria surpresa e a fantasias corriam soltas. Uma roda gigante dominical, um piquenique (e foram muitos), uma ida à praia, um final de chuva em que todos nós corríamos para a calçada à procura de filhotinhos de passarinhos que pudessem ter caído dos seus ninhos, onde os meninos mais altos pegavam escadas emprestadas para colocá-los de volta.

O que teria eu para pensar? Só sentia. Aprontava pouco, apesar da curiosidade sempre ser meu traço mais marcante. Não fazia fofocas porque isso não existia no meu mundo, mas desobedecia meus pais quando o  assunto era sobre algo que ainda não tinha feito, como ir na casa de uma vizinha sem avisar, só para subir na goiabeira e me empanturrar de deliciosas goiabas vermelhas. Estas ainda são minhas favoritas, ou ir na casa de uma amiguinha mais velha e deixá-la me maquiar toda como se eu fosse uma atriz de cinema. Claro, era certo de acontecer a bronca enorme que mamãe me dava, com aqueles discursos que os pais fazem com um dom de parar o tempo, de tão compridos e chatos para quem está vivendo grandes emoções,como uma criança, mas bastava chegar o próximo fim de semana e lá estava eu, de novo, sendo maquiada ou penteada, usando perfume forte, do tipo Charisma, eca, que me faziam sentir maravilhosa como nos filmes em preto e branco, apesar das cores serem múltiplas em nossa cabecinha.

Precoce na infância, no desenrolar dos anos não seria diferente. Aos sete anos já havendo concluído o primário, imagina que esquisito, mas obrigada por meus pais a cursar a quinta série e o admissão por ser muito nova, entro no ginásio com quase dez, me sentindo uma menina, mas com o corpinho insistindo em trazer modificações.

 Os anos foram passando e meus sonhos aumentando, mas agora eu já pensava, tinha consciência disso, e se por um lado já sabia da importância do pensamento até mesmo para sonhar, comecei a entender o duro preço de estar crescendo e me tornando um ser pensante demais e com sentimentos maiores ainda.

 Minha sensibilidade veio para ficar e até hoje governa minha vida, mas na mistura de sonhos, pensamentos e sentimentos, veio também a experiência da dor, dor moral, dor de sentir no coração, lágrimas de sofrimento. Se antes aprendi que para sorrir bastava estar feliz ou simplesmente me divertindo com uma estória contada por alguém, descubro já adulta que o que nos leva ao choro são as memórias, assim como os fatos atuais que nos ferem em nossos valores e sentimentos.

Hoje afirmo que prefiro sonhar. Escolhi esse caminho porque faz sentir-me segura, livre e feliz. O pensamento deixo para esse lado de responsabilidades e compromissos, pois sei que são necessários para organização do nosso dia, nossa família, profissão e outras coisas, mas de sonhar e imaginar não abro mão.

Ao imaginar, percebi que posso enxergar através dos olhos dos outros e sentir os seus sentimentos, para então saber respeitar as diferenças de cada um.

Com meu sonhar, consigo voar, nadar, virar sereia e flor. Ser chuva, vento, minhoca e anzol.
Bem, assim cheguei até aqui, sou psicóloga, muito prazer.


Atendimento psicológico na Clínica Gênesis em Cabo Frio.
Telefone para marcar consulta: 22 2643-6366

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