Que atire a primeira pedra quem não é dependente de alguma coisa nessa vida? TV, radinho de pilha, internet, mp3, celular, jornal físico, livros, palavras cruzadas, caça palavras e por aí vai... mas vamos falar a verdade: o vício pela internet pegou de jeito a maioria das pessoas, e quando exatamente isso aconteceu? Vamos entrar numa retrospectiva temporal x factual e pensar juntos.
A internet começa a ganhar intimidade em nossas vidas por volta do final dos anos 90. Surge a febre do chat e com a invenção do Google, ninguém mais pesquisa em livros. Eu mesma, na minha pós-graduação, em 1997, já utilizei o recurso da internet em minhas pesquisas, apesar de ainda ser bem rudimentar e escarço em informações em português. A biblioteca ainda me consumia e eu atolava em livros e xerox.
Sem ter a percepção do canto da Sereia, fomos nos chegando, e ela, muito mais rapidamente que nós, antes mesmo de conseguirmos tentar dominar essa fera, ela já nos enfeitiçava com sua falta de limite, globalização, facilidades e tornando o mundo cada vez menor. A coisa foi tão forte que casamentos começaram a acabar, antes mesmo de termos leis sobre adultério virtual.
Encurtando distâncias, vieram os romances, ainda hoje muito presentes, a distância/sem distâncias, presencial/virtual, os jogos, e finalmente podemos dizer que a chave de ouro que abriu a porta para as multidões foi o Orkut. Para quem não lembra, só entrava no Orkut quem recebia um convite. Lembro de ganhar o meu de uma cliente querida e me esparramar a procura dos meus colegas de colégio e faculdade e adicionando e também criando, comunidades que diziam muito de cada personalidade. E aí, sem nem notar, veio o Facebook para arrematar o kit sedução.
Hoje, temos twitter, wikipédia, Linkedin, Intagran e tantos recursos de buscas que torna a internet algo incalculavelmente sedutora, mas como tudo na vida tem limite, onde está o "nosso" limite? Nem é por uma questão de trabalho, pesquisa, colégio ou faculdade, mas sim as redes sociais as responsáveis pelo maior número de tempo dedicado a internet. E quem está por trás da telinha das redes sociais? Bem, pessoas de todo tipo, mas especialmente aqueles com dificuldade de inclusão social por ene motivos, como por exemplo a timidez, a forma física, a imagem no sentido estético, a geografia (onde mora), o horário... Tudo isso é aniquilado quando nosso dedinho clica no computador.
Um mundo mágico se abre onde você pode "tudo" (quase) e por isso, pela permissão que a própria estrutura te dá, no aconchego do seu lar, que você, sem se dar conta, vai ficando cada vez mais tempo no computador, o relógio correndo, as horas passando e seu sono ficando atrasado, mas o jogo tá bom demais pra parar nessa fase, a série tá boa demais então vou assistir mais um episódio, o filme tá bom demais e tudo vai ficando cada vez melhor, porque ninguém de dentro da telinha te contraria, ninguém te dá ordem e lá você é seu Rei no seu próprio castelo, mas como tudo tem, pelo menos, dois lados, vem a dependência, o vício e você cada vez mai escravo, acorrentado aquele mundo libertino e libertador, onde ninguém sabe que você tá de pijama e descabelada (não necessariamente é o caso desta que vos fala), onde você já está pensando que amanhã tem visita daquela tia chata e que você trocaria tudo pra poder ficar no computador. Visitas chegando ou você saindo já causam ansiedade e mal estar.
Uma sensação forte de deslocamento, de "peixe fora d'água" que só faz crescer sua vontade de ficar só com seu brinquedinho, no seu mundinho, que pra você é um mundão. São os problemas chegando de causas psicossociais, onde adolescentes só escovam os dentes e tomam banho se lembrados a fazer, pela mãe, que se esgoela, mas com o fone nos ouvidos você nunca escuta. Vista cansada, dificuldade de concentração, confinamento, baixa auto estima e até depressão são alguns dos muitos sintomas dessa dependência.
E agora, que dissertamos sobre o uso do computador, você consegue saber como está diante dele? Você é mais um refém da internet? Você desliga seu computador todo dia???
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