sábado, 27 de maio de 2017




Meninos refugiados apelam à prostituição para sobreviver na Grécia
Giorgos Christides


Imigrantes dormem na rua em Atenas, Grécia

Os refugiados na Grécia enfrentam péssimas condições de vida, opções limitadas de moradia e períodos desastrosamente longos de espera para seus processos. Em uma praça de Atenas, meninos desacompanhados do Afeganistão, do Paquistão e da Síria estão cada vez mais sucumbindo a uma alternativa desesperada pela sobrevivência: a prostituição


Mohammed é abordado por um homem de meia idade usando calças beges ensebadas, uma camisa azul e um boné azul de beisebol. Embora o homem fale grego, o rapaz de 17 anos do Afeganistão sabe exatamente o que ele quer. "Não", diz Mohammed repetidamente em inglês, com a voz embargada e os olhos se enchendo de lágrimas. Mas o homem continua insistindo. "Venha comigo. Vou te dar comida, vou te pagar

O homem só para quando percebe que está sendo observado. Então ele relutantemente se afasta e vai se sentar em um banco próximo. De lá, ele começa a esquadrinhar o local novamente, à procura de algum outro rapaz.


Era plena luz do dia de uma manhã ensolarada de terça-feira na Praça Victoria, no coração de Atenas. A praça tem sido um local de encontro e lar improvisado para milhares de migrantes desde que a crise dos refugiados chegou à Grécdois anos atrás, e agora está se tornando cada vez mais um ponto de prostituição para refugiados menores de idade.

Mohammed ainda não chegou a esse ponto, mas diz que é só uma questão de tempo até ele ir para casa com algum homem. Só lhe restam 30 euros (cerca de R$110) no bolso, e ele está rapidamente perdendo as esperanças. "Quando esse dinheiro acabar, temo que não terei outra escolha além de fazer o que os outros estão fazendo. Fazer sexo com esses homens mais velhos. O que mais posso fazer? Não tenho onde ficar, não tenho o que comer. Vou simplesmente morrer no parque?", ele pergunta, por fim se entregando às lágrimas.

Mohammed diz que perdeu seus pais em um ataque no Afeganistão. Ele está em Atenas há um mês, segundo ele, após fugir de casa sozinho e chegar à ilha grega de Lesbos em fevereiro passado, onde se registrou como menor de idade. Depois ele alegou ser adulto para escapar da violência no famoso acampamento de Moria. Desde então, apesar de parecer muito um adolescente, com espinhas, pouca estatura e uma voz fina, ele tem sido recusado em abrigos para menores. Quando anoitece, Mohammed se enrola em um cobertor em um canto da praça.

Seu único pertence é um envelope amarelo que ele guarda com cuidado, onde mantém seus documentos de registro de refugiado e um currículo de uma única página. De acordo com os documentos de Mohammed, ele se candidatou ao asilo em em Lesbos em novembro de 2016. A data marcada para sua entrevista é 4 de janeiro de 2018.


São basicamente rapazes do Afeganistão, do Paquistão e da Síria --que ou vieram sozinhos ou foram separados de suas famílias durante a arriscada jornada para a Europa-- que estão hoje aguardando para que seus pedidos de refúgio sejam processados na Grécia. Enquanto isso, as autoridades deveriam cuidar deles, mas há somente 53 abrigos com 1.272 vagas. Dos aproximadamente 2 mil menores registrados, cerca de 800 estão abrigados em grandes acampamentos, sob custódia policial ou sem teto.


"A vida é difícil" 

Ahmad, outro adolescente do Afeganistão, já fez aquilo que Mohammed está desesperadamente tentando evitar. Ele tinha 15 anos quando deixou Candahar dois anos atrás, o mais velho de sete filhos. Seu pai vendeu umterreno para pagar os 2 mil euros (cerca de R$7.500) que os coiotes pediram para levá-lo até a Turquia. As instruções que Ahmad recebeu eram ir até o Reino Unido ou a Alemanha e encontrar um emprego para enviar dinheiro de volta para a família. Em vez disso, ele está se prostituindo em Atenas.

"Meu emprego em Atenas no último ano e meio tem sido fazer sexo por dinheiro", diz o magro rapaz, que fala como um adulto. "A vida é difícil e às vezes a vida faz as pessoas fazerem coisas difíceis". Quando ele ficou sem dinheiro em Atenas, Ahmad diz que se deparou com três opções: vender drogas, entrar para uma rede de contrabando ou a prostituição. Ele escolheu a última.


Ahmad parece um típico adolescente. Ele usa jeans desbotados, camiseta branca, jaqueta de brim e tênis. Assim como a maioria dos jovens de sua idade, ele está sempre entretido com seu celular. Mas não por diversão: são inúmeras mensagens entre ele e a dezena de homens adultos gregos que ele chama de "meus clientes"

Quando um de seus clientes liga para ele, Ahmad o coloca no viva-voz. "Venha até a estação de metrô de Eleonas às 17h", ele diz. Já são 16h30 e Ahmad sai imediatamente, seguido por outro adolescente a quem Ahmad se refere como "meu aprendiz". O aprendiz nunca fala, sua tarefa é observar como Ahmad trabalha para que ele também possa entrar no mercado do sexo. Ahmad chega ao ponto de encontro 15 minutos atrasado, mas o cliente ainda está lá, esperando.. Ahmad se aproxima do carro e entra. Alguns minutos depois, ele surge novamente.



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